quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Travessuras de Mario Vargas Llosa...

“Qual é a verdadeira face do amor?” Está pergunta pode soar meio banal, concordo! Pode até se parecer com as capas daqueles livrinhos que se compram nas bancas, com histórias românticas e que custam apenas um real... concordo!
Mas não é nada disso. É o que se questiona a contracapa de um livro que muito me fez pensar. Confesso que li tarde o romance Travessuras da Menina Má, do peruano Mario Vargas Llosa, que no ano de 2010 ganhou o tão esperado Nobel. Sempre quis comprar esse livro, pois quando ele foi lançado eu estava na minha primeira aventura por esse mundo desse autor. Havia ganho Pantaleão e as Visitadoras, que me encantou de tal forma que senti que me tornava fã. Mas não pude comprar o outro, havia livros que estavam na frente em minha lista… Achei, tempos atrás, um exemplar do Travessuras… em edição de bolso, que se encaixava perfeitamente aos meus anseios.
Fiquei maturando-o na estante, assim como tantos outros títulos ainda lá estão. Era livro relativamente grande, e os afazeres do dia a dia não me permitiam lê-lo – da forma como gostaria – naquele período. Assim ele lá ficou. Em uma das férias, indo ao interior, coloquei alguns volumes em uma bolsa (Travessuras, no meio deles) e lá fomos nós. Fiquei receoso, porque como estava lendo Caim, de José Saramago, ainda ficou de lado. Isso estava me preocupando. Terminado Saramago, sentei-me sem maiores pretensões com Travessuras na mão. Comecei a lê-lo e fui tomado, não podendo mais deixar de lado. Ainda que tenha que revelar comprei Leite Derramado, de Chico Buarque, e tive que ler no intermédio, pois era, a meu ver um texto rápido (prometo que se der um tempo, um dia escrevo tanto sobre Caim quanto sobre Leite Derramado, pois posso considerar que essa passagem de ano foi frutífera para minhas leituras!).
Terminei de ler. E como esse livro me deixou pensativo.
Ricardo é um peruano que tem um sonho: viver em Paris. E viver simplesmente. Seu sonho é só poder se sustentar na cidade luz e lá ficar. É isso que almeja fazer. E o livro retrata sua história, desde a infância no Peru, até sua passagem para Paris.
Ainda no Peru, na adolescência, conhece a Lily, a Chilenita, uma menina que chegou de fora e que conquistou seu coração apaixonado da juventude. Entretanto, de uma hora para outra, a menina vai embora, sem nunca ter dado uma chance ao menino, que sempre se declarava apaixonado por ela.
Terminada a faculdade, vai a Paris e consegue, depois de um penoso tempo, um emprego freelancer de tradutor/intérprete para a Unesco. Com a amizade que tem com um peruano comunista, faz com que se envolva na passagem de aspirantes à revolução peruana para o treinamento em Cuba. Em um desses grupos que ele vai buscar no aeroporto para o amigo, encontra uma mulher, que é a mesma de sua tenra infância: era Lily. Envolvem-se. Ficam juntos. Mas ela deve partir, ainda que não queira.
Anos mais tarde aparece-lhe a senhora Arnoux, mulher de um homem rico. A mesma Lily. Envolvem-se novamente. Mas ela some. Só irá retornar anos mais tarde em Londres, como mrs. Richardson, casada com um homem ainda mais rico, criador de cavalos. E adivinhem o que? Novo envolvimento. Mas ela some novamente. Ele sempre o “menino bom” e ela sempre a “menina má”, com suas incríveis travessuras.
Voltam a se encontrar no Japão, quando ela é Kuriko, que é casada com um homem ainda mais rico que os anteriores e ainda mais poderoso. Ficam novamente juntos. Mas aí vem a decepção para o “menino bom”. Uma briga imensa, intensa e devastadora. Ele resolve que não pode e nem deseja mais vê-la. Volta a Paris e lá fica.
O resto… acho melhor não contar, para não perder a graça. Contei tudo o que podia, com a vontade de revelar mais e mais. Às vezes estragamos o fim…
O que me fez realmente pensar, foi o amor que sempre foi nutrido por Ricardo. De que forma ele pode manter uma amor intacto, que não se fazia estremecer em momento algum. Que ainda com raiva, dava-lhe sentimentos de companheirismo? São questões que me assolam. Questões que me acompanham. Acho que era o amor verdadeiro, que a boa literatura tratou nesse caso!
Não posso negar que a mulher de mil faces tenha feito muito errado, mas ela era movida também por algo que era maior. E ela também o amava. Mas foi um amor que foi surgindo aos poucos, a partir das demonstrações do “menino bom”. Foi um amor que se tornou necessário, foi uma pessoa que se tornou o porto de todas as tempestades da menina má!
No mais, leiam-no! Aproveitem uma boa literatura deste ganhador do Nobel, com muita certeza dado a pessoa certa! Leiam e pensem também nesse amor incomum do “menino bom” com a “menina má”.


O dia em que conheci Marco Lucchesi

Olho pela janelinha do avião e vejo o Rio se distanciar cada vez mais. Enquanto observava, pensei que somente quem tem essa possibilidade de vista, além de uma própria visão aguçada, pode ver a beleza que é esse lugar. Um lugar que, parado na parada de ônibus, observando a paisagem, vemos construções belíssimas que se ergueram em cima das pedras. Maravilhoso! Sempre que venho saio bobo, saio contemplativo, saio feliz. E com uma esperança perene de sempre voltar.
Essa viagem foi um tanto quanto diferente. E foi pelo acontecimento de hoje. Estava eu à espera de uma mesa redonda, quando anunciaram – professor Álvaro, organizador do evento – o nome do Marco Lucchesi. Confesso que desde o momento que li seu nome do caderno de resumos, fiquei pensativo para saber de onde o conhecia – seu nome apenas. Ao anunciá-lo como professor do Departamento de Letras Português-Italiano, fiquei feliz, pelo laço que nutro com tudo relacionado à Itália. Mas minha surpresa maior foi ver aquele homem, que no mesmo momento me fez recordar a figura de Roberto Benigni o qual por sua vez me fez recordar a mim mesmo num futuro imaginário. E como cereja de bolo (ainda que eu não goste!) veio que ele é membro da Academia Brasileira de Letras. Ele é um imortal. O professor Álvaro disse que ele ficaria bravo com o anúncio posto que é tímido. E posto que para os bons isso pouco interessa, de fato.
Pensei na maravilha que se montava às minhas vistas. Mas, como ressabiado que sou, pensei também na possibilidade de que fosse um intelectual enfadonho, como tantos que conheço, como os que tive a dura vida de aguentar (até mesmo neste evento), como tantos que há por aí; basta chacoalharmos as árvores.
Sua explanação era sobre Goethe e Dante. E para meu encanto, surpresa, fascinação, e outros tantos sentimentos mais, não pude tirar os olhos de sua imagem por um único segundo. E não pude porque não conseguia. E não queria.
Aquele homem, que falava muito claramente, que se expressava à la italiana, poliglota, intelectual de verdade e de bondade, foi o expositor mais maravilhoso que pude presenciar até o momento de minha vida acadêmica. Terminou sua exposição dizendo que “Goethe escreveu o início da Divina Comédia e Dante terminou Fausto”. Estupendo!
Ao terminar sua fala, foi se levantando (nós já tínhamos sido avisados no início), pedindo desculpas, pois ele tinha que sair porque deixara seus alunos na Biblioteca, que era o seu lugar preferido para dar aulas. Dizia que aceitara o convite do professor Álvaro, mas não podia ficar para o debate. Como é brincalhão – fato que pôde ser visto pela sua apresentação! – disse que alguém poderia segui-lo para comprovar que iria mesmo dar aula. E seria uma aula sobre verbos italianos.
Eu fiquei bobo. Ele realmente se mostrou muito bom. Eu estava fascinado.
Iniciou-se a apresentação do outro professor, mas ficou em mim a inquietação. Não pude resistir. Em um ímpeto peguei minhas coisas, sai do auditório e fui me informar onde ficava a Biblioteca. Fui e como sou liso para essas situações, achei o local em uma epopeia, pois de onde estava era longe e eu nunca havia estado no Campus do Fundão da UFRJ. Entrei, fiquei uns segundos à procura, até que o encontrei em pé, falando para alunos que estavam em volta de uma grande mesa, num dos cantos do mundo imenso. Era ele, era Roberto, talvez fosse eu, gesticulando e estilizando a nossa maior arma: a fala.
Fiquei rodeando, dei uma olhada, parei-me próximo a uma estante de livros e não me aguentei. Aproximei-me e perguntei se podia assistir sua aula. Para minha surpresa, ele me olhou e disse:
      É agente da CIA?
      Não! – respondi abrindo um sorriso.
   Então pode! – me responde também sorrindo. Assim como todos os seus alunos.
Puxei uma cadeira, sentei-me e ouvi-o. Falava sobre ópera, pois estavam lendo um trecho de uma italiana. Fez piada, criticando os atores de ópera, daí subitamente me olhou:
      É cantor de ópera? – me perguntou.
      Não...
      Que bom. Mas posso criticar porque eu sou.
Cada novo diálogo eu o achava mais surpreendente.
Quando questionou sobre o passado de um verbo em italiano, ninguém respondeu. Ele então olhou para mim:
      Você?
      Não sei – e todos novamente riram.
Mas o mais engraçado é que ao fim da leitura de um determinado trecho, ele questionou a turma se alguém tinha alguma dúvida. Ninguém se manifestou. Ele disse então:
      Dez reais por dúvida!
Uma moça levantou o braço.
Na hora ele respondeu a ela:
      Ele paga! – apontando pra mim.
Eu acho que meu sorriso não podia contentar-se dentro de meu rosto. Ele é realmente um professor fantástico! Ao final da aula, os alunos se levantaram para ir embora; eu tentei dar uma pequena contribuição, dizendo para a moça que havia feito a pergunta:
      Estou te devendo dez reais!
E todos riram.
Ele sentou-se do meu lado, estendendo sua mão.

Seguimos em uma conversa por quase meia hora, tanto dentro da Biblioteca quanto pelo corredor da UFRJ. Falamos sobre tantas coisas diversas: estudos, viagens, sobrenomes. Mantenho nosso diálogo no campo da memória, para sempre me recordar nos momentos propícios. Mas posso dizer que a vinda ao Rio valeu à pena. Que há ética, que há paixão pelo conhecimento, que há o imortal que é imortal pela forma como é enquanto ser humano. Posso afirmar também que o justo trabalho acadêmico – fiel ao saber pela pureza do saber, também vale a pena. E que, principalmente, viver – vivere – vale a pena!

Poemas nos ônibus

Pois há algum tempo já venho olhando os vidros dos ônibus em Porto Alegre, andando pelos caminhos desta cidade... O que mais me encantou – e isso todos aqueles que são mais próximos a mim podem confirmar – foi a cidade! Ah, esse meu eterno amor pela cidade! O que é a cidade, esse amontoado sem fim de concreto, de prédios, de barulho, de gente? Não sei, não saberei, pois não quero teorizar. Mas que me encanta, isso sim, indubitavelmente.
Mas entrar em um ônibus em Porto Alegre tem me sido uma alegria imensa – desculpando-me do trocadilho piegas e terrível. Mas é que há sempre o elemento surpresa. O elemento que me faz querer sair de casa levando o óculos já na cara, para melhorar o campo de visão. É o sempre querer estar perto do lugar onde a vista alcance o objetivo.
(Como estás poético!)
Sim, isso tudo é pura poesia!
Vi dias desses na Casa de Cultura Mario Quintana, no centro – o ponto máximo de uma cidade – uma frase que, se não me recordo ao certo, tenho o seu caráter principal. Dizia mais ou menos isso sobre Quintana: “Diziam que tudo o que ele falava era poesia”...
Talvez seja essa cidade, em realidade. Talvez seu concreto ilumine as mentes das pessoas, mesmo sem sabermos.
Há um projeto aqui que chama-se “Poemas no ônibus”. São pequenos textos que vão colocados nas janelas, em cartazes, trazendo os poemas selecionados de pessoas que se inscrevem enviando seus poemas autorais. Me encantou desde o primeiro momento! Sou fascinado e tenho andado de ônibus procurando por mais versos que me alimentem a alma e me coloquem um sorriso na cara.
Selecionei dois deles, que me ficaram no pensamento por bons momentos após a leitura:


MOMENTOS

Apaixonada, entrou no ônibus e leu a placa:
“Fale ao motorista somente o indispensável”
Suspirou e então disse: - Eu te amo! 


Milton Braga da Mota Junior

 

PERDA

Ficou-me duro de roer este osso
Outrora – a desventura de perdê-la
Hoje prescindo dos favores dela:
Bebo água limpa do meu próprio poço.

Sofrer até um limite xis eu posso,
Já que torna a alma resistente e bela,
Entre na trama austera da novela
Da vida que escolhi e ainda endosso

Não são os males ditos naturais,
Mas os do coração que doem mais
Há uma compensação, ao que se sabe:

Se aqui não há um bem que sempre dure,
Ou a que nenhum desfeito se misture
Também não há um mal que não se acabe  

José Nedel


Quem quiser ver mais, pode acessar o site da Prefeitura de Porto Alegre e dar uma olhadinha. Ainda mais porque estamos bem próximos do aniversário da cidade... Salve os Quintanas da vida! Salve aquilo que o próprio Quintana sempre viu: poesia!



http://www2.portoalegre.rs.gov.br/smc/default.php?p_secao=57

Apresentação

Olá a todos!

Hoje inicio, depois de muito tempo, a realização de algo especial: um blog sobre Livros, Literatura e Autores.

Como sou professor e há anos os alunos vêm me pedindo "listas" do que ler depois de tantas citações literárias que eu faço em sala, acho que esse pode ser um bom caminho. Não apenas aos meus alunos, mas a todos os interessados, claro.

Um grande abraço!

E bem vindos! ;)