“Qual é a verdadeira face do amor?” Está pergunta pode
soar meio banal, concordo! Pode até se parecer com as capas daqueles livrinhos
que se compram nas bancas, com histórias românticas e que custam apenas um
real... concordo!
Mas não é nada disso. É o que se questiona a contracapa de
um livro que muito me fez pensar. Confesso que li tarde o romance Travessuras da Menina Má, do peruano
Mario Vargas Llosa, que no ano de 2010 ganhou o tão esperado Nobel. Sempre quis
comprar esse livro, pois quando ele foi lançado eu estava na minha primeira
aventura por esse mundo desse autor. Havia ganho Pantaleão e as Visitadoras, que me encantou de tal forma que senti
que me tornava fã. Mas não pude comprar o outro, havia livros que estavam na
frente em minha lista… Achei, tempos atrás, um exemplar do Travessuras… em edição de bolso, que se encaixava
perfeitamente aos meus anseios.
Fiquei maturando-o na estante, assim como tantos outros
títulos ainda lá estão. Era livro relativamente grande, e os afazeres do dia a
dia não me permitiam lê-lo – da forma como gostaria – naquele período. Assim
ele lá ficou. Em uma das férias, indo ao interior, coloquei alguns volumes em
uma bolsa (Travessuras, no meio
deles) e lá fomos nós. Fiquei receoso, porque como estava lendo Caim, de José Saramago, ainda ficou de
lado. Isso estava me preocupando. Terminado Saramago, sentei-me sem maiores
pretensões com Travessuras na mão.
Comecei a lê-lo e fui tomado, não podendo mais deixar de lado. Ainda que tenha
que revelar comprei Leite Derramado,
de Chico Buarque, e tive que ler no intermédio, pois era, a meu ver um texto
rápido (prometo que se der um tempo, um dia escrevo tanto sobre Caim quanto sobre Leite Derramado, pois posso considerar que essa passagem de ano foi
frutífera para minhas leituras!).
Terminei de ler. E como esse livro me deixou pensativo.
Ricardo é um peruano que tem um sonho: viver em Paris. E
viver simplesmente. Seu sonho é só poder se sustentar na cidade luz e lá ficar.
É isso que almeja fazer. E o livro retrata sua história, desde a infância no
Peru, até sua passagem para Paris.
Ainda no Peru, na adolescência, conhece a Lily, a
Chilenita, uma menina que chegou de fora e que conquistou seu coração
apaixonado da juventude. Entretanto, de uma hora para outra, a menina vai
embora, sem nunca ter dado uma chance ao menino, que sempre se declarava
apaixonado por ela.
Terminada a faculdade, vai a Paris e consegue, depois de
um penoso tempo, um emprego freelancer de tradutor/intérprete para a
Unesco. Com a amizade que tem com um peruano comunista, faz com que se envolva
na passagem de aspirantes à revolução peruana para o treinamento em Cuba. Em um
desses grupos que ele vai buscar no aeroporto para o amigo, encontra uma
mulher, que é a mesma de sua tenra infância: era Lily. Envolvem-se. Ficam
juntos. Mas ela deve partir, ainda que não queira.
Anos mais tarde aparece-lhe a senhora Arnoux, mulher de um
homem rico. A mesma Lily. Envolvem-se novamente. Mas ela some. Só irá retornar
anos mais tarde em Londres, como mrs. Richardson, casada com um homem ainda
mais rico, criador de cavalos. E adivinhem o que? Novo envolvimento. Mas ela some
novamente. Ele sempre o “menino bom” e ela sempre a “menina má”, com suas
incríveis travessuras.
Voltam a se encontrar no Japão, quando ela é Kuriko, que é
casada com um homem ainda mais rico que os anteriores e ainda mais poderoso.
Ficam novamente juntos. Mas aí vem a decepção para o “menino bom”. Uma briga
imensa, intensa e devastadora. Ele resolve que não pode e nem deseja mais
vê-la. Volta a Paris e lá fica.
O resto… acho melhor não contar, para não perder a graça.
Contei tudo o que podia, com a vontade de revelar mais e mais. Às vezes
estragamos o fim…
O que me fez realmente pensar, foi o amor que sempre foi
nutrido por Ricardo. De que forma ele pode manter uma amor intacto, que não se
fazia estremecer em momento algum. Que ainda com raiva, dava-lhe sentimentos de
companheirismo? São questões que me assolam. Questões que me acompanham. Acho
que era o amor verdadeiro, que a boa literatura tratou nesse caso!
Não posso negar que a mulher de mil faces tenha feito
muito errado, mas ela era movida também por algo que era maior. E ela também o
amava. Mas foi um amor que foi surgindo aos poucos, a partir das demonstrações
do “menino bom”. Foi um amor que se tornou necessário, foi uma pessoa que se
tornou o porto de todas as tempestades da menina má!
No mais, leiam-no! Aproveitem uma boa literatura deste
ganhador do Nobel, com muita certeza dado a pessoa certa! Leiam e pensem também
nesse amor incomum do “menino bom” com a “menina má”.